O Diretor de Políticas da Playtech, Francesco Rodano, responsável por formular e aconselhar a empresa em políticas governamentais nos níveis local, estadual, nacional e da UE, está há seis anos no cargo e hoje conversou com o portal iGaming Brazil, explicando como são escritas estas políticas e como garantir o jogo responsável, já que o objetivo de proteger o jogador é cada vez maior devido ao aumento da popularidade do jogo online.
Francesco Rodano, ex-regulador de jogos na Itália, é responsável pelas relações com formuladores de políticas, organizações institucionais e partes interessadas do setor em nível global, com exceção da Itália desde 2016.
Durante seu mandato, a receita bruta italiana de jogos de azar cresceu para mais de € 800 milhões, tornando-se o segundo maior mercado regulamentado da Europa, com a Itália virando um estudo de caso de sucesso para outros reguladores, cujos países foram ou serão regulamentados em breve. Rodano também recebeu o prêmio de Regulador do Ano da IMGL em 2008.
A Playtech, empresa desenvolvedora de software de jogos de azar fundada em 1999, acaba de alcançar um novo marco em sua parceria com o Buzz Bingo, lançando sua single wallet digital, e agora alimentando todos os clubes físicos e operações online.
Nesta ocasião, Rodano conversou com o portal iGaming Brazil sobre diversos temas, incluindo as políticas de Jogo Responsável, Inteligência Artificial aplicada às apostas esportivas, mercados e, obviamente, regulamentação.
Confira a entrevista na íntegra
iGaming Brazil – Como as políticas de Jogo Responsável são escritas? O que a Playtech faz para garantir isso?
Francesco Rodano – O jogo responsável é um dos objetivos fundamentais da regulamentação. Nos últimos 15 anos, governos nacionais de todo o mundo têm regulamentado o jogo online com a intenção de supervisionar uma atividade que, por um lado, tem um impacto econômico substancial e, por outro, pode prejudicar uma minoria de indivíduos que, sendo particularmente vulneráveis, precisam ser protegidos. O foco na proteção do jogador tem aumentado ainda mais nos últimos anos, devido à crescente popularidade das apostas online, combinada com uma maior maturidade e experiência entre os reguladores.
Devido à regulamentação, hoje em dia existem muitos exemplos de políticas nacionais de jogo responsável, que vão desde alguns princípios básicos até requisitos detalhados que os licenciados locais devem cumprir.
Com uma gama tão diversificada de políticas em vigor, nos próximos anos os reguladores continuarão aprendendo uns com os outros e adotando aquelas que se mostrarem mais eficazes. Ao mesmo tempo, as partes interessadas do setor têm a responsabilidade de contribuir para esse processo, aumentando seus esforços e compartilhando suas descobertas.
É por isso que, neste contexto, estamos investindo mais tempo e energia em pesquisa e desenvolvimento de jogos de apostas mais seguros. Nosso objetivo é desenvolver soluções de jogos de apostas seguras que funcionem, apoiadas por evidências amplamente testadas, focadas no bem-estar do jogador individual e não apenas genericamente em toda a base de jogadores. No entanto, também precisamos ajudar os formuladores de políticas a estarem cientes do potencial dessa abordagem.
Ao longo dos anos, temos conversado com muitos reguladores em todo o mundo e, como resultado, vários deles estão introduzindo requisitos regulatórios sobre análise comportamental e intervenção personalizada. Já existem exemplos na Holanda, França, Espanha, Alemanha, Suécia, e esperamos ter a chance de fazer o mesmo com os políticos brasileiros, a fim de promover um crescimento seguro, sustentável e de longo prazo da indústria de apostas legais no Brasil.
iGaming Brazil – Como a Playtech usa a IA para esse fim? Como funciona o software criado para isso?
Francesco Rodano – As apostas online nos dão acesso a dados comportamentais muito granulares de cada jogador. Normalmente, os operadores de jogos de aposta tendem a usar scorecards simples com base em limites básicos, como dinheiro depositado ou apostado e tempo gasto jogando. Mas essa abordagem de padronizada corre o risco de considerar todos os atores da mesma forma, enquanto, como sabemos, o comportamento humano é muito mais complexo e diversificado.
É por isso que a Playtech vem utilizando a inteligência artificial para realizar uma abordagem mais personalizada para o jogo responsável há vários anos. O BetBuddy, software de IA de propriedade da Playtech, analisa os comportamentos dos jogadores de acordo com mais de 70 indicadores diferentes para criar um perfil individual e identificar aqueles que podem mostrar sinais de risco o mais cedo possível. Em poucas palavras, o software é treinado usando um conjunto de jogadores de risco conhecidos e aprende a reconhecer aqueles que apresentam comportamentos semelhantes em toda a base de jogadores do operador.
Mais importante ainda, o software não é uma ‘caixa preta’, que apenas atribui uma pontuação de risco aos jogadores, mas também explica os marcadores individuais que levaram a essa pontuação, permitindo ao operador realizar uma intervenção personalizada com cada jogador, o que é significativamente mais eficaz para protegê-lo do que as interações tradicionais, como e-mails ou mensagens genéricas.
Finalmente, os jogadores parecem a favor de serem monitorados por empresas de jogos de apostas se isso se destinar a protegê-los. Em uma pesquisa que realizamos no ano passado, com a ajuda da Toluna, ficamos positivamente surpresos ao ver que 76% dos brasileiros são a favor do uso de IA para detectar potenciais jogadores em risco.
iGaming Brazil – Como a Playtech vê o mercado brasileiro em termos de aplicação de controle de jogo responsável?
Francesco Rodano – O marco regulatório final no Brasil ainda não foi aprovado, então não está claro que tipo de controle de jogo responsável será introduzido. No entanto, independentemente das regras iniciais de abertura do mercado, é importante ressaltar que a regulação é um processo em constante evolução. Como aconteceu, e ainda está acontecendo, na maioria dos países regulamentados, os governos atualizam continuamente seus marcos, de modo a adequá-los à evolução do mercado, ao avanço da tecnologia, às preferências do consumidor e às condições políticas, econômicas e socioculturais.
O desenvolvimento de políticas de jogo responsável no Brasil será impulsionado por outras experiências regulatórias existentes e pela capacidade das operadoras licenciadas de melhorar proativamente suas práticas e compartilhar seus aprendizados com o regulador e o resto da indústria.
iGaming Brazil – Qual mercado é o mais desenvolvido hoje em tecnologia e controle de jogo responsável?
Francesco Rodano – É difícil nomear um mercado único, pois há muitos exemplos de como os diferentes aspectos do jogo responsável são tratados em jurisdições regulamentadas. Um bom exemplo é a Holanda, onde o mercado de jogos de apostas online foi aberto apenas recentemente, há menos de um ano. O regulador de lá pôde se beneficiar das experiências anteriores de seus colegas e adotou uma estrutura de jogo responsável que é particularmente moderna.
De acordo com as regras holandesas, os operadores licenciados estão sujeitos a um “dever ativo de cuidado” para evitar problemas relacionados às apostas. Isso requer monitorar e analisar o comportamento do jogador e intervir, conforme apropriado, quando necessário.
Estes são exemplos do requisito estabelecido pela regulamentação holandesa: Os titulares de licenças devem registar os dados para que os riscos de dependência do jogo possam ser identificados numa fase inicial; A análise visa a identificação precoce de sinais que possam apontar para riscos de vício em jogos de apostas; Se a análise aponta para riscos de dependência do jogo, o titular de uma licença deve tomar as medidas de intervenção adequadas para prevenir a dependência do jogo. Em caso de suspeita razoável de participação excessiva em jogos de apostas ou de vício em jogo, o titular da licença alerta o jogador para o seu comportamento de jogo.”
Vale a pena destacar ainda que passados três anos desde a abertura do mercado, o regulador holandês irá avaliar como os operadores têm executado esses requisitos para adotar regras mais detalhadas com base no que terão provado serem as melhores práticas.
iGaming Brazil – Como você vê a questão da regularização no caso do Brasil? Você acredita que está prestes a acontecer? Você acha que o modelo adotado é o ideal?
Francesco Rodano – Estes últimos 15 anos de experiência em regulação do jogo nos mostraram que, mais cedo ou mais tarde, a legalização do setor acontecerá em todos os lugares. Mas, ao mesmo tempo, cada país tem suas próprias características culturais, sociais e políticas, tornando o processo de regulação diferente a cada vez, pois precisa ser contextualizado à situação local específica. O mesmo está acontecendo no Brasil, que é um país muito grande e particularmente diversificado. Além disso, as apostas podem ser um assunto emotivo, com várias considerações, e não podemos esperar que um conjunto de regulamentações de um país possa ser levantado para se encaixar perfeitamente no de outro.
No Brasil, muitos passos foram dados em direção à regulamentação, a partir da lei nº 13.756/2018 que legalizou as apostas esportivas. Então, em fevereiro passado, a Câmara aprovou o projeto de lei PL 442/91, que prevê a legalização de outras verticais de jogos. Parece haver uma direção política clara. A efetiva implementação do regulamento será fruto do debate atualmente em curso entre os diversos atores do setor, razão pela qual não estou certo de que seja apropriado falar sobre um modelo “ideal”. Cada país adota o modelo que é alcançável no contexto local específico. A boa notícia é que, quando introduzida, a regulamentação será testada no mundo real, permitindo aos formuladores de políticas a oportunidade de eventualmente ajustar todos os aspectos que não se mostraram à altura da tarefa.
iGaming Brazil – Quais são as diretrizes para não confiar na regularidade? (Porque na prática o jogo continua e as apostas também). Quais são as desvantagens (sobre tributação, por exemplo) de ter um país desregulamentado?
Francesco Rodano – Os jogos de aposta já são muito populares e muito acessados no Brasil, como em todos os outros países do mundo. Apenas ocorre sem a possibilidade, para o governo, de fiscalizá-lo e controlá-lo. Não se trata apenas de uma oportunidade perdida em termos de receitas fiscais. O controle do Estado significa prevenir fraudes, jogos fraudulentos, pagamentos de ganhos perdidos, violações de privacidade e até mesmo o risco de financiar atividades criminosas. Sem uma alternativa legal, a demanda dos players brasileiros sempre será direcionada para a oferta offshore, onde nenhum controle pode ser realizado.
Quando a lei 13.756/2018 for promulgada, finalmente haverá uma oferta regulamentada de apostas esportivas que poderá ser acessada por brasileiros. Um próximo passo natural seria regular os jogos de cassino também, pois eles geram quase metade da receita global de jogos de apostas e já estão legalmente disponíveis na grande maioria dos países regulamentados em todo o mundo, incluindo alguns na América Latina (como a Colômbia, Argentina, logo Peru e possivelmente Chile).
Finalmente, e mais importante, somente em um mercado regulamentado pode haver uma cooperação aberta e transparente entre todas as partes interessadas do setor: formuladores de políticas, indústria (incluindo a cadeia de suprimentos e a mídia) e consumidores. Isso é fundamental para garantir que o jogo continue sendo uma atividade de entretenimento e que os jogadores mais vulneráveis e em risco de serem prejudicados sejam protegidos. Como discutido, hoje, a tecnologia pode desempenhar um papel enorme e extremamente eficaz para alcançar isso. É por isso que nossa aspiração na Playtech é continuar desenvolvendo as melhores ferramentas, práticas e pesquisas na área de jogos de apostas mais seguros, para liderar pelo exemplo e promover a sustentabilidade a longo prazo da indústria.
Sobre a Playtech
Fundada em 1999 e listada premium no mercado principal da Bolsa de Valores de Londres, a Playtech é líder de mercado nas indústrias de jogos e negociação financeira com cerca de 6.600 funcionários em 26 países.
A Playtech fornece software, serviços, conteúdo e tecnologia de plataforma de jogos orientados por inteligência de negócios nas verticais de produtos mais populares do setor, incluindo cassino, cassino ao vivo, apostas esportivas, esportes virtuais, bingo e poker.
É a pioneira da tecnologia de jogos omni-channel por meio de sua tecnologia de plataforma integrada, Playtech ONE. A Playtech ONE oferece experiência em marketing orientada a dados, funcionalidade de carteira única, CRM e soluções de jogo responsável em uma única plataforma em verticais de produtos, varejo e online.
Além disso, a Playtech realiza acordos e investe nas marcas líderes em mercados regulamentados e recentemente regulamentados para conceder sua tecnologia de jogo orientada por dados em toda a cadeia de valor de varejo e online.
Assim, fornece sua tecnologia em uma base B2B para os principais operadores de varejo e online do setor, grupos de cassinos físicos e entidades patrocinadas pelo governo, como loterias. O grupo é proprietário e opera a Snaitech, a empresa líder em apostas esportiva