Após o Ministério Público de Goiás (MP-GO) deflagrar, na última terça-feira, 18, uma operação para desbaratar uma associação criminosa especializada em manipulação de resultados de jogos da Série A do Campeonato Brasileiro para favorecer apostas esportivas, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) qualificou, em nota oficial, como “epidemia global” as interferências externas em partidas.
“Interferências externas em resultados ou em situações de jogo são uma epidemia global que, para ser solucionada, precisa punir, de forma exemplar e urgente, os responsáveis por essa prática nefasta”, diz a nota da CBF, que acrescentou: “apoia toda e qualquer ação legal que traga transparência e lisura aos campeonatos que organiza e a todo o esporte brasileiro”.
De acordo com a organização, mesmo com as suspeitas de manipulação de resultados em alguns jogos do ano passado, não há a possibilidade de suspensão de jogos. A CBF mencionou que está investindo no monitoramento de jogos em parceria com uma empresa que “é mundialmente conhecida por sua expertise neste tipo de trabalho”.
MP-GO investiga esquema de manipulação de resultados na Série A
Na operação do MP-GO foram cumpridos mandados de prisão e de busca e apreensão em 16 municípios de seis estados (Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina).
“A investigação indica que as manipulações eram diversas e visavam, por exemplo, assegurar a punição a determinado jogador por cartão amarelo, cartão vermelho, cometimento de penalidade máxima, além de assegurar número de escanteios durante a partida e, até mesmo, o placar de derrota de determinado time no intervalo do jogo”, informou o MP-GO em nota.
“Há indícios de que as condutas previamente solicitadas aos jogadores buscavam possibilitar que os investigados conseguissem grandes lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, utilizando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar os rendimentos”, consta ainda no comunicado.
De acordo com as apurações obtidas ao longo da Operação Penalidade Máxima II, “há suspeitas de que o grupo criminoso tenha concretamente atuado em, pelo menos, cinco jogos da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2022, bem como em cinco partidas de campeonatos estaduais”.
Em coletiva recente, o promotor Fernando Cesconetto, do MP-GO, disse que “a investigação partiu de cinco partidas na reta final do Brasileirão de 2022”:
- Santos x Avaí (no dia 5 de novembro, e na qual há a suspeita de haver um esquema para um atleta do Santos tomar cartão amarelo),
- Bragantino x América-MG (no dia 5 de novembro e na qual há a suspeita de haver esquema para jogador do Bragantino receber amarelo),
- Goiás x Juventude (em 5 de novembro e na qual dois atletas do Juventude estariam acertados para tomar amarelo),
- Cuiabá x Palmeiras (em 6 de novembro e na qual um jogador do Cuiabá deveria receber amarelo),
- Santos x Botafogo (no dia 10 de novembro e no qual um jogador do Santos deveria tomar vermelho).
De acordo com a Agência Brasil, ainda foi levantada a possibilidade que pode haver um esquema relacionado ao jogo entre Palmeiras e Juventude, em 10 de setembro e no qual um atleta do Juventude precisaria levar um cartão amarelo.
Segundo o promotor do MP-GO, cada atleta abordado pela quadrilha para integrar o esquema de manipulação de resultados na Série A do Brasileiro ganharia entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.
“Foram emitidos 20 mandados de apreensão [um em Goiás, três no Rio Grande do Sul, dois em Santa Catarina, um no Rio de Janeiro, dois no Pernambuco e 11 no estado de São Paulo] além de terem sido efetuadas três prisões preventivas no estado de São Paulo. Entre os investigados estão jogadores e intermediários, não descartando que essas pessoas também sejam jogadores de futebol”, declarou Fernando Cesconetto.
Operação Penalidade Máxima
A Operação Penalidade Máxima II é um desdobramento da Operação Penalidade Máxima, promovida em fevereiro de 2023 e que resultou no oferecimento de denúncia, já recebida pelo Poder Judiciário, com imputação dos crimes de integrar organização criminosa e corrupção em âmbito desportivo.