Recentemente, a divulgação da análise técnica do Banco Central sobre o mercado de apostas online causou um impacto significativo. Os que mais se mostraram insatisfeitos foram, justamente, o comércio varejista e as empresas de apostas esportivas.
Com estimativas de gastos mensais que variam entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões, a análise gerou reações opostas entre esses setores. Enquanto as associações do comércio veem a situação como um alerta para a regulação do setor, os sites de apostas contestam a metodologia e os números apresentados.
Indignação dos sites de apostas online
A discordância é clara. Executivos do setor de apostas online afirmam que a falta de clareza na metodologia utilizada pelo Banco Central prejudica a precisão dos dados.
Um diretor de uma das principais plataformas de apostas no país destaca: “Mesmo os estudos com números mais elevados falavam num gasto anual entre R$ 60 bilhões e R$ 130 bilhões”.
Ele considera que os R$ 240 bilhões anualizados são exagerados, pois parte do valor apostado acaba retornando para as contas dos usuários.
Temores de um aumento na regulação também são esperados pelo setor de apostas. Há a preocupação com o aumento das limitações sobre os valores que podem ser transferidos para os sites de apostas.
Pesquisas revelam que os brasileiros fazem mais de 90% das operações digitais de apostas via Pix, uma informação acessível ao Banco Central. Mas os consumidores limitam o uso do cartão de crédito devido ao risco elevado de estornos em casos de perdas.
Questionamentos sobre os dados utilizados
Além disso, o Banco Central sugere que as casas de apostas retêm 15% dos valores apostados. Porém, essa taxa é contestada por um executivo do setor, que afirma que “isso não chega nem a 10% no Brasil”.
Outro ponto crítico levantado advém da metodologia de coleta de dados do Banco Central. Ou seja, o levantamento que incluiu empresas sem registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) contrasta com o padrão de transparência necessário.
Um consultor de apostas questiona: “Como eles podem basear uma análise em CNAEs se não há registro das empresas?”.
Portanto, a falta de registros adequados dificulta a verificação da qualidade dos dados utilizados, o que levanta a preocupação sobre a confiança na análise apresentada.
Impacto dos jogos nos recursos públicos
Um dos aspectos mais alarmantes da análise foi a descoberta de que R$ 3 bilhões gastos em jogos e apostas em agosto vieram de recursos do Bolsa Família. Isso representa 14% do total mensal.
Então, para as empresas de varejo, essa realidade confirma temores sobre os gastos descontrolados dos brasileiros com apostas. Essa percepção fica mais evidente em tempos de dificuldades financeiras.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos, expressou preocupação na última terça-feira (24) com os impactos potenciais nas taxas de inadimplência.
Por sua vez, o presidente Lula alertou para os riscos de um aumento descontrolado nas operações, ressaltando a necessidade de regulamentação, pois “o país terá cassinos funcionando dentro da cozinha de cada casa”.
Varejistas e a pressão por regulação das apostas online
Entidades do varejo, respaldadas pelo IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), têm manifestado preocupações sobre o desvio de recursos públicos.
As discussões entre representantes do IDV e deputados federais quer conscientizar a população sobre o uso de recursos do Bolsa Família em apostas. O objetivo é garantir mais responsabilidade no consumo daquilo que realmente é necessário para a família.
Além disso, as empresas de varejo temem que os consumidores desviem sua renda disponível para as apostas, impactando diretamente suas operações.
Nesse contexto, líderes de entidades do varejo também levantam a questão da saúde mental, argumentando que o aumento das apostas pode ter um efeito nocivo. No entanto, os sites de apostas contestam essa narrativa, defendendo que estudos mostram que os vícios em apostas afetam uma pequena parte da população.
Encontro intersetorial
Os donos de sites de apostas insinuam que as questões de saúde mental estão sendo utilizadas como justificativa para restringir suas operações.
Por isso, as associações que representam as bets convidaram as entidades do varejo para um encontro intersetorial. O objetivo é dialogar e propor medidas para garantir o sucesso da regulamentação dos jogos.
O convite também foi encaminhado para o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e para o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, além dos ministérios da Fazenda, do Esporte e da Saúde.