O Ministério Público de Goiás está investigando o caso que pode se tornar o maior esquema de manipulação de resultados no futebol brasileiro. Conforme matéria da Veja, 14 pessoas estão sendo acusadas de participar do esquema que já envolve jogos da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Os clubes e casas de apostas são tratados como vítimas.
A Veja publicou trechos de conversas em poder do MP-GO, que indicam como funcionava o sistema. A Operação Penalidade Máxima iniciou quando o presidente do Vila Nova (GO), Hugo Jorge Bravo, descobriu que um de seus jogadores, Marcos Vinicius Alves Barreira, o Romário, estaria envolvido em manipulações de resultados.
Ele teria se endividado com uma quadrilha após solicitar um adiamento de R$ 10 mil para repassar a um companheiro de equipe. O valor foi encaminhado, todavia, a promessa de pênalti não aconteceu e o grupo deixou de faturar meio milhão. A quadrilha, liderada por Bruno Lopez de Moura, o BL, não conseguiu arcar com outros compromissos.
Na fase anterior da operação, alguns jogadores foram alvos de uma operação de busca e apreensão: os zagueiros Victor Ramos (Chapecoense), Kevin Lomónaco (Bragantino), Paulo Miranda (Juventude), e Eduardo Bauermann (Santos), os laterais-esquerdos Igor Cariús (Sport), e Moraes, (ex-Juventude) e agora no Atlético-GO, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS.
Conforme o GE, foram acrescentados agora os nomes dos volantes Fernando Neto, ex-Operário-PR e hoje no São Bernardo, e Nikolas, do Novo Hamburgo-RS, e do atacante Jarro Pedroso, do Inter-SM.
Manipulação de resultados no futebol chegou a elite brasileira
Com o desenrolar das investigações, o MP compreendeu que a situação não se limitou ao futebol goiano. Mesmo com a apuração a quadrilha seguiu com a manipulação de resultados no futebol neste ano e alcançou partidas de Campeonatos Estaduais de São Paulo, Paraíba, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.
Dos seis jogos da Série A de 2022 sob suspeita, quatro já tiveram confirmações de irregularidades, segundo os investigadores: Santos x Avaí, Santos x Botafogo, Palmeiras x Juventude e Goiás x Juventude. Os atletas investigados são os zagueiros Paulo Miranda (Juventude) e Eduardo Bauermann (Santos) e o meia Gabriel Tota (Juventude). Eles negam participação no esquema.
A quadrilha começou a atuar no ano passado e contava com intermediadores, apostadores, administrativo e financiadores. Tudo era tratado via aplicativos de conversas. Após os intermediários realizarem os primeiros contatos e acertarem as quantias, os financiadores disponibilizavam o valor da entrada.
“O Bruno disse que um jogador do Novo Hamburgo (RS) pediu 15 000 reais de adiantamento para cometer um pênalti. Ele mandou 6 000 reais, eu mandei 6 000 e o Ícaro (outro investigado) mandou o restante. Em outro caso, eu mandei 7 500 reais para um jogador do Vila Nova”, disse um dos investigados, Zildo Peixoto Neto.
A operação do MP de Goiás é a maior, mas não é a única. Em São Paulo, por exemplo, a polícia apura ao menos 18 casos de fraudes envolvendo jogos do Brasileiro Feminino e de divisões menores da Federação Paulista. Em função disto, o Congresso Nacional instalou a CPI das Apostas Esportivas, cujo intuito é reunir a maior quantidade possíveis de apurações.
O setor, que movimentava aproximadamente R$ 2 bilhões em 2018, deve alcançar R$ 20 bilhões este ano. O governo estima que cerca de mil plataformas estejam em operação no Brasil e está elaborando uma medida provisória para regulamentar a atividade, algo que ajudará a coibir a manipulação de resultados no futebol e punir severamente os envolvidos.
A MP das apostas esportivas, elaborada pelo Ministério da Fazenda, está na Casa Civil e deve ser publicada em breve. O setor foi legalizado em dezembro de 2018 ainda no governo do então presidente Michel Temer.
Santos anuncia afastamento de jogador investigado
O Santos acaba de anunciar que o Eduardo Bauermann está afastado das atividades do clube em virtude dos “novos desdobramentos divulgados na Operação Penalidade Máxima 2, do Ministério Público de Goiás”.
“O Santos Futebol Clube informa que o atleta Eduardo Bauermann foi comunicado que está afastado preventivamente dos treinos com o elenco profissional, a partir desta terça-feira (9), diante dos novos desdobramentos divulgados na Operação Penalidade Máxima 2, do Ministério Público de Goiás.
O jogador permanecerá fazendo atividades físicas no CT Rei Pelé. O Clube aguardará se a Justiça aceitará a denúncia para definir novas ações, sempre com o pensamento voltado a preservar a instituição. O Santos FC não tolera desvios de conduta e de ética”.