Ícone do site iGaming Brazil

Proposta de legalização dos jogos gera debates, mas pode ser votada em novembro

Proposta de legalização dos jogos gera debates, mas pode ser votada em novembro

O debate sobre a legalização dos jogos e apostas no Brasil continua no Congresso, mas colocando a bancada do Centrão em atrito com os evangélicos. O Planalto Central procura não se envolver na discussão desse tema que está ganhando cada vez mais destaque no cenário nacional. No entanto, o Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) é um dos apoiadores dessa medida.

Os representantes do Centrão desejam um projeto vasto, que contemple inúmeras modalidades e até o jogo do bicho. O argumento é que essa ação deve estimular tanto a economia quanto o turismo. Lembrando que os jogos estão vetados no território nacional há mais de sete décadas. Em 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu a prática por considerar os jogos “nocivos à moral e aos bons costumes”.

Recentemente, o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), criou um grupo de trabalho para avaliar o assunto. O deputado Felipe Carreras (PSB-PE), é o relator e o projeto pode ser colocado em votação no plenário no próximo mês. Em reportagem publicada nesta quinta-feira, 14, o jornal O Estados de S. Paulo aprofundou essa questão.

Liberação de jogos de azar opõe Centrão a Evangélicos

A discussão sobre a legalização de jogos de azar avança no Congresso com apoio do Centrão. Evangélicos são contra. O Palácio do Planalto evita se posicionar, mas o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-rj) defende a medida.

O avanço das discussões no Congresso sobre a legalização de jogos de azar colocou em campos opostos dois dos principais grupos aliados do governo Jair Bolsonaro. De um lado, o Centrão age para aprovar uma proposta ampla, que inclui a liberação até jogo do bicho, sob a justificativa de que vai favorecer a economia e promover o turismo. Do outro, evangélicos dizem que o vício em jogos prejudica famílias e contraria valores que eles defendem.

O Palácio do Planalto evita se posicionar sobre o assunto, mas o filho mais velho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-rj), é um dos defensores de tornar a jogatina legal no País.

Os jogos de azar são proibidos no Brasil desde 1946, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra afirmou que a “tradição moral, jurídica e religiosa” do País não combinava com a prática, além de considerá-los “nocivos à moral e aos bons costumes”. Desde então, diversas propostas foram apresentadas para legalizar a jogatina, mas nenhuma avançou.

Um dos líderes do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-al), decidiu tentar novamente e criou, no mês passado, um grupo de trabalho para discutir um projeto sobre o tema. Ele escalou como relator o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), seu aliado, e pretende levar a proposta a votação em plenário em novembro.

O ponto de partida do texto de Carreras é um projeto aprovado em comissão especial da Câmara em 2016, mas que nunca teve a votação no plenário marcada. A proposta regulamenta as atividades de cassinos em resorts, máquinas caça-níqueis, apostas online, bingos e jogo do bicho, além de uma anistia geral, extinguindo processos judiciais em tramitação. Hoje, explorar essas atividades é considerado contravenção, com pena de até um ano de prisão.

Segundo Carreras, embora o projeto seja amplo e inclua o jogo do bicho, seu foco será liberar os cassinos integrados a resorts. “Tem instrumento de fiscalizar e arrecadar. Qual a consequência disso? Gerar emprego formal. Quando traz (para o Brasil) os grandes cassinos integrados de resorts do mundo, você tem um produto turístico. Espanha, França, Itália, Alemanha, Portugal, Reino Unido, Canadá, México têm (cassinos) ”, afirmou o relator.

Ao mesmo tempo em que Lira acelera a discussão na Câmara, o Senado também analisa pelo menos três projetos sobre jogos de azar. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEMMG), declarou há duas semanas que pode colocar um deles em votação caso haja acordo.

Sob relatoria do senador Ângelo Coronel (PSD-BA), uma das propostas se limita a regulamentar a abertura de cassinos em hotéis. Segundo Coronel, a liberação desses empreendimentos poderia gerar uma arrecadação de R$ 30 bilhões por ano ao País. O cálculo tem como base a participação que os jogos têm na economia da Itália e considera que a tributação sobre eles no Brasil seria similar à aplicada hoje na aposta esportiva. “Na Itália, em torno de 1,3% do PIB é fruto do jogo. Se tomarmos como base a Itália, a receita para os entes federados (do Brasil) ficará em torno de R$ 30 bilhões com tributação similar à esportiva bancada pela Caixa Econômica Federal”, disse.

Coronel tem a seu favor o lobby de Flávio Bolsonaro. No início do ano passado, o filho do presidente visitou cassinos em Las Vegas, acompanhado do então presidente da Embratur e hoje ministro do Turismo, Gilson Machado, e do senador Irajá Abreu (PSD-TO), que também é autor de um projeto que prevê cassinos em resorts. Na ocasião, o grupo se reuniu com Sheldon Adelson, um apoiador de Donald Trump que comandava a Las Vegas Sands, uma das maiores empresas do mundo do ramo de cassinos. Adelson também se encontrou em 2018 com Bolsonaro, então presidente eleito, e com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O americano morreu em janeiro deste ano.

Apesar do lobby do filho, Bolsonaro tem dito que, caso a legalização dos jogos seja aprovada, vetará a medida, mas deixou aberta a possibilidade de sua decisão não ser a final. “Eu acho que vai ter mais a perder do que a ganhar no momento. Se, porventura, aprovar, tem o meu veto, que é natural, e depois o Congresso pode derrubar o veto. Sim, o que está sendo discutido até o momento contará com o meu veto. Ponto final”, afirmou o presidente à revista Veja no fim de setembro.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-pr), disse, porém, que não há posição oficial do Planalto sobre o tema. “Depende da abrangência”, afirmou ele em relação ao apoio ou ao veto do governo à iniciativa.

‘Princípios’. A bancada evangélica diz que não medirá esforços para evitar que a legalização dos jogos de azar avancem. “Minha posição contrária à legalização dos jogos de azar continua a mesma, sou visceralmente contra, e, por se tratar de princípios, não mudará jamais”, disse o deputado Marco Feliciano (Republicanos-sp), pastor evangélico e um dos congressistas mais próximos de Bolsonaro. “Não falei sobre esse assunto com o presidente, porém, até onde o conheço, acredito que ele não seja a favor.”

Auditores fiscais também têm pressionado para que a iniciativa não seja aprovada. A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) divulgou nota no fim do ano passado segundo a qual “os efeitos deletérios resultantes da jogatina superam qualquer possível ganho econômico advindo da prática”.

“Além de estimular atividades ilícitas como corrupção, prostituição, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, pode causar sérios danos à saúde, desencadeando doenças como a ludopatia – transtorno compulsivo patológico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), causado pelo vício em jogos”, afirmou a associação.

Sair da versão mobile