STJD instaura inquérito para apurar conduta de Bruno Henrique, do Flamengo

STJD designa responsável para apurar possível infração, com prazo de conclusão de até 30 dias.

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Foto: Gilvan Souza / Flamengo

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) iniciou um inquérito para apurar a possível participação de Bruno Henrique, atacante do Flamengo, em um esquema de manipulação de resultados no futebol brasileiro.

O procedimento foi formalizado após o recebimento das provas encaminhadas pela Polícia Federal, que havia indiciado o atleta no mês anterior, apontando suspeitas de forçar um cartão amarelo no jogo contra o Santos, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2023, beneficiando apostadores, entre eles, familiares.

Na última segunda-feira, Luís Otávio Veríssimo Teixeira, presidente do STJD, recebeu a íntegra da investigação da Polícia Federal. O presidente do STJD nomeou Maxwell Borges de Moura Vieira como auditor responsável pelo caso.

Ele terá até 15 dias para apresentar o relatório, com possibilidade de prorrogação por mais 15 dias. Como ninguém pediu suspensão preventiva, Bruno Henrique continua atuando pelo Flamengo durante o andamento do processo.

O Flamengo garante que a permanência do atleta na equipe está amparada na presunção de inocência, aguardando o encerramento do procedimento investigatório.

Desde o indiciamento, Bruno Henrique disputou seis partidas pelo Flamengo. Atou como titular em três jogos e entrou como substituto em outros três. Ele não marcou gols nem deu assistências durante esse período.

Posição do STJD

Luís Otávio Veríssimo Teixeira ordenou, em despacho, a abertura do inquérito: Informo que, em resposta às solicitações de compartilhamento formuladas pelo Presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e pelo Procurador Geral da Justiça Desportiva, a cópia integral do Inquérito Policial nº 2024.0082027-CGRC/DICOR/PF (PJe nº 0741636-90.2024.8.07.0001) foi oficialmente encaminhada a este Tribunal pelo Coordenador de Repressão à Corrupção da Polícia Federal, Delegado Daniel Mostardeiro Cola, nos termos de autorização judicial expressa para ‘compartilhamento dos dados da presente investigação com o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pois pertinente com as atividades desenvolvidas pelo referido órgão’.

Considerando o conteúdo compartilhado em 5 de maio de 2025 e com fulcro nas atribuições conferidas pelo art. 81 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), determino de ofício a instauração de inquérito para apurar possível infração disciplinar cometida pelo atleta Bruno Henrique Pinto, do Clube de Regatas do Flamengo (CRF), relacionada a suspeita de manipulação de resultados.

Nos termos do art. 82 do CBJD, o Auditor Processante, Dr. Maxwell Borges de Moura Vieira, disporá do prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período, para conduzir a apuração e para apresentar relatório conclusivo. Abra-se vista à Procuradoria do STJD para acompanhar o presente feito”.

Sigilo negado

No início do mês, a Justiça do Distrito Federal rejeitou um pedido de parentes de Bruno Henrique para colocar a investigação sob sigilo. O juiz Fernando Brandini Barbagalo ainda permitiu à Polícia Federal compartilhar as provas obtidas com o STJD.

Além disso, a Justiça do DF negou o pedido do atleta para reconsiderar decisão anterior — que liberava o envio das mesmas provas à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, em funcionamento no Senado.

Bruno Henrique, atacante do Flamengo – Foto: Paula Reis/ Flamengo

Detalhes da investigação sobre a conduta de Bruno Henrique

A Polícia Federal indiciou Bruno Henrique e outras nove pessoas no mês passado, por supostamente realizarem apostas prevendo que o atacante do Flamengo receberia um cartão amarelo contra o Santos, sabendo que o próprio atleta buscaria essa punição durante o confronto.

Além do jogador, também foram indiciados seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, Ludymilla Araújo Lima, esposa de Wander, e Poliana Ester Nunes Cardoso, prima do atacante. Os três teriam feito apostas nesse contexto.

Outro grupo de apostadores, segundo as investigações, é composto por Claudinei Vitor Mosquete Bassan, Rafaela Cristina Elias Bassan, Henrique Mosquete do Nascimento, Andryl Sales Nascimento dos Reis, Max Evangelista Amorim e Douglas Ribeiro Pina Barcelos, todos amigos de Wander.

Bruno Henrique e Wander foram enquadrados no artigo 200 da Lei Geral do Esporte, referente à fraude ou contribuição para fraude no resultado de competição esportiva, com penas previstas de dois a seis anos de prisão. Eles também respondem por estelionato, que pode gerar reclusão de até cinco anos. Os demais investigados foram indiciados apenas por estelionato.

Em novembro do ano passado, ações de busca e apreensão foram realizadas em endereços ligados ao jogador, inclusive no Centro de Treinamento do Flamengo. Bruno Henrique estava em casa no momento da abordagem, quando seu telefone celular foi apreendido.

Conversas em dispositivos entre Bruno Henrique e familiares

Nos dispositivos, a Polícia Federal identificou conversas relevantes. Em uma delas, o irmão de Bruno Henrique, Wander, questiona quando o atleta receberia o terceiro cartão amarelo, e o atacante respondeu: “Contra o Santos”.

Assim, operadores de apostas relataram movimentações suspeitas sobre o cartão amarelo que Bruno Henrique recebeu na partida contra o Santos, válida pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2023, em Brasília. A investigação teve início em agosto do ano passado após esses relatos.

Alertas foram emitidos por três casas de apostas. Em uma delas, 98% das apostas sobre cartões foram apostas em Bruno Henrique. Em outra, a taxa chegou a 95%.

O atacante tinha, até então, cinco cartões amarelos em 22 jogos disputados no campeonato. Bruno Henrique enfrentou o Santos pendurado e recebeu o cartão nos acréscimos do segundo tempo, quando o Flamengo já estava atrás no placar. Na sequência, foi expulso pelo árbitro Rafael Klein após reclamação.

O Ministério Público do Distrito Federal irá analisar o relatório da Polícia Federal para decidir se apresentará denúncia.